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Silicone industrial e os riscos para travestis e pessoas trans: o perigo por trás da busca por reconhecimento
samantha 23 de março de 2025

Introdução

O uso de silicone industrial é uma prática recorrente entre muitas travestis e pessoas trans, especialmente em contextos onde o acesso à saúde pública e aos procedimentos estéticos seguros é limitado ou inexistente. A aplicação de silicone industrial — também conhecido como silicone líquido — é feita, na maioria das vezes, de forma clandestina, sem supervisão médica e com produtos não próprios para uso humano. Embora muitas pessoas recorram a essa prática na tentativa de afirmar sua identidade de gênero e se proteger da transfobia, os riscos são graves e podem comprometer a saúde física e mental.

O que é o silicone industrial?

O silicone industrial é uma substância química utilizada em aplicações técnicas, como lubrificantes de máquinas, vedantes e materiais de construção. Ele não é aprovado para uso no corpo humano. Mesmo assim, é aplicado de forma clandestina por “bombadeiras” (pessoas que realizam procedimentos estéticos de forma informal) em locais improvisados e, muitas vezes, em condições insalubres.

As aplicações são feitas diretamente em regiões como coxas, quadris, nádegas, seios e até rosto, com o objetivo de alterar o corpo de maneira rápida e barata — algo que clínicas de estética convencionais muitas vezes não oferecem de forma acessível.

Riscos e complicações do uso do silicone industrial

O uso dessa substância apresenta uma série de complicações, que podem ocorrer de forma imediata ou tardia. Entre os principais riscos estão:

  • Infecções graves e necrose dos tecidos

  • Embolias (quando o silicone entra na corrente sanguínea)

  • Problemas respiratórios

  • Inflamações crônicas e dores intensas

  • Migração do silicone para outras partes do corpo

  • Deformações permanentes

  • Risco de morte

Essas complicações, quando não tratadas, podem levar à hospitalização e, em casos extremos, à amputação ou óbito.

Por que tantas pessoas recorrem a essa prática?

  • A pressão estética, a busca por aceitação social e a afirmação de identidade são fatores centrais. Muitas travestis e pessoas trans são excluídas de oportunidades educacionais, profissionais e de saúde, e encontram no corpo uma ferramenta de resistência e proteção social.

    Infelizmente, a falta de acesso a cirurgias seguras e ao acolhimento no SUS empurra muitas para alternativas perigosas.

Existe reversão ou tratamento?

Em alguns casos, é possível realizar cirurgias reparadoras para retirar o silicone industrial e reparar os danos causados, mas são procedimentos de alto custo e complexidade. Nem sempre o SUS oferece esse tipo de intervenção com a agilidade necessária.

Por isso, a prevenção e a informação são essenciais.

Caminhos para prevenção e acolhimento:

  • Ampliar o acesso à saúde pública especializada e livre de transfobia

  • Garantir cirurgias seguras e estéticas gratuitas ou acessíveis pelo SUS

  • Promover campanhas educativas sobre os riscos do silicone industrial

  • Apoiar grupos de travestis e pessoas trans que trabalham com prevenção comunitária

  • Incentivar o autocuidado e oferecer alternativas seguras e acessíveis

Conclusão

O uso de silicone industrial entre travestis e pessoas trans é resultado direto da exclusão social e do despreparo do sistema público de saúde. Combater essa prática passa por garantir acesso à saúde com dignidade, segurança e respeito à identidade de gênero. Nenhum corpo deve ser obrigado a arriscar a vida para ser reconhecido.